Apego ou desapego?

 Se apegar ou não, à algo ou alguém, não é uma coisa que dê pra escolher. Pelo menos, na minha opinião. Você pode ser racional o suficiente, mas não dá pra controlar o coração. Como você diz pra você mesmo que não vai se apegar? Como você se bloqueia ou se controla à ponto de fazer o coração "parar" de sentir?
 Esse tal de apego só ajuda e atrapalha. Ajuda porque é sempre bom sentir, gostar, ter carinho por alguma coisa. Ajuda porque ninguém é de ferro, e isso é bom. Atrapalha porque à vezes é preciso se desapegar. E é aí que o bicho pega. Deixar pra lá, mudar de página, por pontos finais, deixar de querer, desgostar, é complexo. Nada fácil. Porque gostar é "fácil", se você gosta. E costume a gente tem vários. É difícil deixar pra trás, mesmo que seja um pijama velho, mas que fez parte da sua vida por anos. É difícil dar o passo à frente quando você não sabe o que vai ser. Porque com tudo na vida a gente acostuma. Acostumamos até com as coisas ruins e problemas. Com o que é bom, mais fácil ainda. E se apega. E quer estar ali. Quer ter por perto.
 Se vendessem um antídoto pro desapego - ou pro não-apego - eu compraria, feliz. Porque aí todo mundo ficaria vacinado e viveria uma vida mais leve. Sem tanta cobrança, medos, sem pensar demais pra viver. Mas também a gente deixaria de ser espontâneos e o deixar rolar não iria existir. De certa forma, já sabendo que aquilo não vai acontecer, você prevê o que vai e tudo vira muito sem graça. E pra vida não existe previsão, só em filmes. Então, continuaremos sendo apegados, sentindo, sofrendo, passando aperto e tentando nos desapegar. Melhor aceitar assim.

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