O tempo do tempo

 Estranho pensar na vida como se fosse uma ampulheta. Com tempo para tudo e hora pra acabar. Como se você estivesse sendo cronometrado o tempo todo e cada passo fosse único. Ansiedade. Medo do futuro, do que não é. Parece que o tempo vai afunilando e te colocando na parede, te dando prazo pra viver. Vida com o prazo de validade, o que não é uma inverdade. Só que tem hora na vida que a vida te aperta e dói o coração. Aquelas horas em que você só queria entrar nos conformes, ser "normal" diante da sociedade e se encaixar num modelo que talvez nem exista. E o tempo vai passando, e com ele você percebe cada vez mais que não se encaixa. Que não dá pra você ser o que gostariam que você fosse, e às vezes até o que você gostaria ser. E então? 
 Citando Gandhi, a respeito dos homens: "E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.” Quer verdade maior? A gente se prende ao passado, pula o presente e quer adivinhar o futuro. Sendo que um deles não se muda e o outro não temos tanto controle como se pensa. O único que podemos e temos o direito de modificar é o presente, que parece ser o coadjuvante da história. A gente perde os cabelos, o estômago, a saúde, pensando e tentando mexer no que já foi ou ainda não é. Tentando ser outra pessoa pra se encaixar nos padrões de um futuro "perfeito". Tentando fazer a vida ser perfeita, diante de toda a imperfeição. Sendo que a perfeição está nos olhos de quem vê.
 Por mais que tentamos evitar, às vezes o tempo da vida vem nos apressar e causar um curto-circuito interno, só pra avacalhar o coração. Pra fazer a cabeça pensar. Mas quer saber? Tem hora que devemos deixar o acaso trabalhar. Já que é pra ser, que seja. Que o que eu sou hoje me ajude a ser o eu de amanhã. E que eu possa ser. Sem rótulos, sem o tic tac do relógio e sem tempo pra ser feliz. Por mais que viver doa. 

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